As vezes, a minha dor volta. Basta ver uma foto, uma pessoa, uma frase. Então eu lembro de todas as coisas que ja ouvi, todas as coisas que disseram sobre mim. Eu nunca fui forte, nunca tive coragem de enfrentar os outros. Vivia e vivo me escondendo debaixo da imagem de quem eu gostaria de ser, mas por mais que eu tente, eu nunca consigo ser ela. Não passa de um personagem que eu criei. Linda, forte, com um corpo lindo… Eu me sinto assim na maior parte do tempo. Mas não é poque eu me sinto assim que eu seja. Quando eu to sozinha, olho no espelho e me sinto vazia, como se não tivesse nada dentro de mim. Então meu pulso começa a latejar e eu tenho que lembrar os motivos pra não fazer o que meu inconsciente pede. Pernas grossas, mãos pequenas, rosto redondo e tem sempre essa barriga… Gorda. Quantas vezes já ouvi vozes diversas me chamando disso? Eu choro, e choro mesmo. Por mais que odeie, eu sei que é isso que sou. Meu corpo nunca me obedece, desajeitada como sempre. Meu cabelo? Bagunçado, mais um fator que me persegue. Abro o armário. Nada. Algumas pessoas se sentem bem quando colocam uma roupa bonita, confortável. Pelo menos, foi isso que ouvi da minha psicóloga quando criança. Eu sei que minha mãe odeia o jeito que me visto, sei que meus avós me consideram como a ovelha negra. Não ajuda em nada ver a minha irmã-princesa sendo paparicada por todos. Principalmente porque eu lembro de quando no lugar dela, era eu. Se olhar minhas fotos de quando era bebê percebe que são todas parecidas: Vestidinho rodado, cabelo penteado, sapatinho branco e boneca na mão. Não sou mais assim. Eu cresci. Quem dera eu não o tivesse feito. Pelo menos quando eu era criança, não via diferença entre eu e minhas amigas, mesmo que eu sempre fosse a menor do grupo, a mais gordinha, a mais lenta na corrida, a que chorava por tudo enquanto os outros riam. É, naquela época eu não via as coisas como realmente eram, acho que é culpa dessa tal de inocência. Mas agora, bela merda. Eu sei que tenho amigos que me amam, eu sei que tenho um namorado lindo e que deveria ser grata a vida por isso. Mas sei que nenhum deles me ama de verdade, porque poucos deles sabem o que eu realmente sou. Eles conhecem quem eu gostaria de ser e não quem eu na verdade sou. Sei que nada disso importa, até porque daqui uns dias eu vou acabar apagando esse texto porque vou ver o quão estúpida eu to sendo de compartilhar essas coisas que eu tanto tento esconder. Mas foda-se, eu to no meu blog, ninguem vai ler mesmo né?
